O que me faz refletir sobre os textos que escrevo durante a semana são minhas experiências e os acontecimentos no Brasil e no mundo. Infelizmente, essa semana fiquei sabendo, um pouco atrasada, sobre os ataques de Israel ao Líbano. Meu coração se apertou imediatamente, e logo pensei: “Mais mortes inocentes”. Como sempre, comecei a me questionar: “Por que isso nunca acaba?”.

Foi então que me lembrei das obras de Freud, como Totem e Tabu e O Mal-estar na Civilização, que tratam de como a violência surge socialmente. Então, se você também sempre se faz essas perguntas, vem comigo!

Os conflitos entre Israel e o Líbano têm uma longa história, marcada por episódios repetidos de violência e destruição. Sob uma perspectiva psicanalítica, podemos entender que esses conflitos transcendem as disputas políticas e territoriais, refletindo aspectos profundos do inconsciente coletivo, traumas históricos e identidades fragmentadas que permeiam as populações envolvidas.

Freud, desenvolveu a ideia de que os seres humanos vivem em constante luta entre duas forças: a pulsão de vida, que busca criar e preservar, e a pulsão de morte, que tende à destruição. Nos ataques entre Israel e Líbano, podemos ver essa dinâmica em ação. A violência não é apenas uma resposta prática a uma ameaça, mas também uma forma de descarregar tensões emocionais acumuladas. O “inimigo”, nesse caso, torna-se o alvo de projeções internas, onde medos e raivas profundas são colocados sobre o outro, transformando-o em algo que precisa ser destruído.

Além disso, a guerra deixa marcas emocionais duradouras, conhecidas como traumas. Esses traumas não desaparecem facilmente e podem ser transmitidos de uma geração para outra. No Oriente Médio, onde os conflitos têm sido frequentes, as feridas emocionais coletivas são passadas dos pais para os filhos, criando um ciclo de dor que perpetua o conflito. Mesmo quem não viveu diretamente os eventos da guerra pode carregar os medos e inseguranças herdados de seus antepassados, o que alimenta a continuidade da violência.

Outro aspecto importante é como as sociedades envolvidas constroem a imagem do “inimigo”. A psicanálise nos mostra que, para justificar a violência, é comum desumanizar o outro, enxergá-lo como alguém menos humano ou indigno de empatia. Essa visão distorcida do “outro” torna mais fácil manter o conflito, pois impede que as pessoas reconheçam a dor e o sofrimento do lado oposto. Isso é reforçado por discursos políticos e pela propaganda, que frequentemente apresentam o inimigo como uma ameaça que deve ser eliminada a todo custo.

A repetição constante de conflitos entre Israel e Líbano pode ser entendida como uma espécie de “compulsão à repetição”, conceito freudiano que sugere que, quando não conseguimos processar ou simbolizar um trauma, tendemos a revivê-lo de diferentes formas. No caso desses dois países, o ciclo de violência se mantém porque as feridas emocionais causadas por guerras anteriores ainda não foram curadas. Sem tempo ou espaço para refletir sobre o sofrimento e sem oportunidades de lidar com o luto, as sociedades voltam a recorrer à violência como uma forma de expressão e resolução, mesmo que temporária.

A única maneira de quebrar esse ciclo é através do que os psicanalistas chamam de “simbolização”, ou seja, a capacidade de transformar a dor e o trauma em algo que pode ser falado, compreendido e resolvido. Sem esse processo, o trauma permanece presente, reaparecendo em novas formas de conflito. Para que haja paz entre Israel e Líbano, é necessário criar espaços de diálogo, onde as pessoas possam compartilhar suas experiências de dor e reconhecer o sofrimento do outro lado. Isso requer esforço e disposição de ambos os lados para olhar além das diferenças e encontrar pontos comuns de humanidade.

Somente através do reconhecimento mútuo do sofrimento e do trabalho em conjunto para reconstruir relações é que um futuro de paz poderá ser possível. E eu torço para que isso seja possível em um futuro perto de nós. Amém!

 

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