A líbido como motor da sociedade do consumo

A Black Friday está chegando, e a ansiedade já tomou conta. Há aqueles que economizaram ao longo do tempo para aproveitar as ofertas e outros que, movidos pelo desejo imediato e um cartão de crédito em mãos, acreditam que essa é a última oportunidade de adquirir algo “barato”. Mas o que leva tantas pessoas a comprar sem pensar nas consequências para o amanhã?

O nosso desejo constante de consumir é impulsionado não apenas por necessidades práticas, mas por um impulso profundo e visceral: a libido. Essa energia vital, tradicionalmente associada ao desejo sexual, é, na verdade, uma força muito mais ampla que move o ser humano em busca de prazer, satisfação e conexão. Na sociedade contemporânea, ela foi habilmente capturada pelo mercado para moldar o consumo como uma expressão de identidade, poder e realização pessoal.

Os anúncios publicitários, vitrines e campanhas de marketing não vendem apenas produtos; eles oferecem sonhos, experiências e promessas de felicidade e é a libido que nos faz desejar aquele perfume que sugere sensualidade, o carro que simboliza status, ou o smartphone que nos conecta a um ideal de modernidade e pertencimento. Não consumimos apenas coisas; consumimos significados. E esses significados, cuidadosamente construídos pelas narrativas do mercado, estimulam nosso desejo de ser mais atraentes, mais realizados e mais completos.

Essa dinâmica, entretanto, vai além do campo individual e permeia as estruturas sociais. A libido, canalizada para o consumo, transforma-se em um motor econômico poderoso. O capitalismo alimenta-se dessa pulsão, criando uma cadeia de produção, publicidade e venda que se renova constantemente. O que é desejado hoje rapidamente se torna obsoleto, dando lugar a novos objetos de desejo que prometem preencher os mesmos vazios.

Contudo, essa busca incessante por satisfação muitas vezes resulta em frustração. Assim como na psicanálise, onde a libido nunca se realiza plenamente, no consumo também somos mantidos em um estado de constante aspiração. É a ausência que move o desejo, e a sociedade do consumo é construída para que nunca nos sintamos completamente saciados.

Repensar o papel da libido na sociedade do consumo é fundamental. Redirecionar essa energia vital para relações mais significativas, para o autoconhecimento e para o cuidado com o próximo e com o meio ambiente é uma urgência que a sociedade ainda não conseguiu atender. No entanto, enquanto não encontrarmos respostas claras, continuaremos girando em torno desse motor incansável, que ao mesmo tempo nos impulsiona e nos aprisiona. Assim, a libido, em sua essência criativa e transformadora, permanece como um reflexo de nossas maiores aspirações e também de nossas maiores armadilhas.