A psicanálise winnicottiana, desenvolvida pelo pediatra e psicanalista britânico Donald W. Winnicott, oferece uma perspectiva única sobre o trauma do abandono. Focando na importância das primeiras relações e no ambiente de desenvolvimento infantil,
Winnicott destacou a importância do “ambiente suficientemente bom” nos primeiros anos de vida, enfatizando o papel crucial da mãe ou do cuidador primário. Para o autor, um ambiente suficientemente bom é aquele em que o cuidador é capaz de atender às necessidades emocionais e físicas do bebê de forma consistente e sensível. Esse cuidado adequado permite que a criança desenvolva um senso de segurança e confiança no mundo, fundamental para o seu desenvolvimento emocional saudável.
No contexto do trauma do abandono, a ausência desse cuidado consistente e sensível pode levar a danos significativos no desenvolvimento emocional da criança. O abandono, seja físico ou emocional, gera um rompimento na continuidade do ser e esse rompimento pode resultar em sentimentos profundos de desamparo, insegurança e medo, impactando negativamente a capacidade da pessoa de formar relacionamentos saudáveis no futuro.
Winnicott introduziu a ideia de “falsos self” e “verdadeiros self” para explicar as defesas que a criança desenvolve em resposta a um ambiente inadequado. O verdadeiro self é a essência genuína da pessoa, enquanto o falso self é uma máscara criada para se adaptar a um ambiente que não atende às suas necessidades emocionais. No caso de trauma de abandono, a criança pode desenvolver um falso self como mecanismo de defesa, suprimindo suas verdadeiras emoções e necessidades para sobreviver emocionalmente em um ambiente negligente ou hostil.
A abordagem da psicanálise Winnicottiana para tratar o trauma do abandono foca na criação de um ambiente terapêutico que funcione como uma “mãe suficientemente boa”. O terapeuta, nesse contexto, atua como uma figura que oferece um espaço seguro e acolhedor onde o paciente pode explorar e expressar suas emoções e experiências. Através dessa relação terapêutica, o paciente tem a oportunidade de vivenciar, possivelmente pela primeira vez, um cuidado consistente e sensível, fundamental para a reparação das feridas emocionais causadas pelo abandono.
O terapeuta, agindo como uma figura de apego, oferece um espaço seguro onde o paciente pode explorar suas emoções e experiências, facilitando a reconexão com o verdadeiro self e a reparação das feridas emocionais. A ênfase no brincar como ferramenta terapêutica também é fundamental, permitindo que o paciente acesse e integre partes de sua psique de maneira lúdica e segura, já que o autor acreditava que o brincar é uma atividade essencial para a saúde emocional, permitindo que o indivíduo explore e integre aspectos de si mesmo de maneira criativa e segura.
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