Nesta semana, minha filha me contou que um colega a chamou de “psicopata” na escola. Juntas, decidimos conversar sobre o que esse termo realmente significa, para que ela mesma pudesse avaliar se se enquadrava ou não no que o colega havia dito, já que desconhecia o significado. Durante essa conversa, me lembrei de como o termo “psicopata” é frequentemente utilizado na sociedade, muitas vezes em tom de brincadeira ou como justificativa para atos extremos, como assassinatos. No entanto, nem sempre uma pessoa que comete um crime violento é, de fato, um psicopata.

Para entendermos melhor o termo e sermos mais responsáveis com as palavras que usamos, decidi trazer esse tema para nossa semana de discussão. Vamos conhecer um pouco do que Freud pensou sobre a psicopatia. Preparados?

A psicopatia é frequentemente descrita como uma condição marcada pela ausência de empatia, culpa e remorso, acompanhada por comportamentos manipuladores, impulsivos e, por vezes, violentos. No entanto, sob a perspectiva psicanalítica, entender a psicopatia vai além da simples descrição de comportamentos. A psicanálise busca explorar as origens inconscientes e os processos psíquicos que estruturam essa condição, oferecendo uma compreensão mais profunda das motivações e defesas que regem a mente psicopática.

Estrutura Psíquica na Psicopatia
Para a psicanálise, a personalidade é composta por três sistemas: o id, o ego e o superego. O id representa os impulsos primitivos e instintivos; o ego busca mediar esses impulsos de acordo com a realidade; e o superego é responsável pelas normas morais e éticas internalizadas. Na psicopatia, observa-se uma fragilidade do superego e uma predominância dos impulsos do id, sem a devida mediação do ego, o que resulta em uma falta de regulação moral e social.

Os indivíduos psicopatas apresentam uma falha no desenvolvimento do superego, que, na maioria das pessoas, se forma através da internalização das figuras parentais e das normas sociais durante a infância. O superego do psicopata é fraco ou ausente, o que explica sua incapacidade de sentir culpa, arrependimento ou remorso, pois essas emoções estão diretamente ligadas ao funcionamento de um superego bem desenvolvido.

Mecanismos de Defesa e o Narcisismo Patológico
No estudo da psicopatia, a psicanálise também observa a presença de um narcisismo exacerbado. Esse narcisismo pode ser visto como uma defesa psíquica. No desenvolvimento normal, a criança inicialmente se vê como o centro do mundo, mas, com o tempo, aprende a lidar com frustrações e limitações impostas pelos outros e pela realidade. No psicopata, essa fase de desenvolvimento pode ter sido interrompida ou prejudicada, resultando em uma visão de si mesmo como superior e merecedor de tratamento especial.

A dissociação afetiva, característica dos psicopatas – a incapacidade de se conectar emocionalmente com os outros – também pode ser entendida como uma defesa. Ao evitar o vínculo emocional, o psicopata se protege de possíveis frustrações e decepções, mantendo uma postura de superioridade que reforça seu narcisismo.

Mecanismos de defesa como a negação e a racionalização são comumente observados. A negação permite que o psicopata ignore as consequências morais de suas ações, enquanto a racionalização justifica comportamentos agressivos ou manipulativos, minimizando o impacto que eles causam aos outros.

Ausência de Punição Interna
Como Freud descreveu, o superego se desenvolve através da internalização das figuras parentais, que regulam o comportamento da criança, ensinando-a a distinguir o certo do errado. No psicopata, essa internalização não ocorre de forma adequada. Em vez de criar uma instância moral interna que controle os impulsos do id, o superego do psicopata é pouco presente ou desestruturado. Como resultado, ele age de acordo com seus desejos e impulsos sem considerar o impacto que suas ações têm sobre os outros.

A ausência de um superego funcional explica por que o psicopata não sente culpa ou remorso. Ele não sofre a punição interna que pessoas com um superego mais desenvolvido experimentam ao violar normas éticas ou sociais. Esse “déficit” moral permite que o psicopata aja de maneira predatória, sem experimentar a angústia psíquica que normalmente acompanha comportamentos imorais.

Dessa forma, a psicopatia pode ser entendida como uma condição marcada por falhas no desenvolvimento do superego e pela predominância de mecanismos de defesa que sustentam um narcisismo patológico. A incapacidade de estabelecer vínculos afetivos, o desprezo pelos outros e a ausência de culpa são sinais de uma organização psíquica na qual a pulsão de morte e o domínio do id governam o comportamento.

Compreender esses processos inconscientes nos permite uma visão mais complexa da psicopatia, que vai além da observação de comportamentos superficiais. Ao explorar as raízes emocionais e psíquicas que sustentam essa condição, a psicanálise também nos convida a refletir sobre os desafios e limitações das intervenções terapêuticas nesse transtorno.

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