Esta semana, perdemos uma das figuras mais importantes da televisão brasileira, talvez até a mais importante. Mesmo quando éramos crianças, nos reuníamos na sala para assistir ao famoso programa do Silvio Santos, com suas pegadinhas e entrevistas originais realizadas pelo próprio dono da emissora. Sem “multicanais” e streamings, era a nossa alegria.

Neste dia, ouvi muitas pessoas dizerem coisas como “ele não era imortal?” ou “um cara desses não podia morrer”, lamentando a morte do apresentador. Mas por que sentimos tanto a perda de alguém que só conhecemos pela TV, sem nunca termos convivido ou sequer o visto pessoalmente?

Antes de mais nada, é importante dizer que é absolutamente normal sofrermos pela morte de um famoso como se o conhecêssemos pessoalmente. Esse tipo de reação, muitas vezes intensa e emocional, tem explicações psicológicas e sociais que tornam essa experiência compreensível.

Muitas pessoas desenvolvem uma forte conexão emocional com figuras famosas ao longo do tempo. Assistimos seus programas, ouvimos suas músicas, lemos seus livros ou acompanhamos suas carreiras, o que nos faz sentir como se essas figuras fossem parte de nossas vidas. Isso é conhecido como identificação. Vemo-nos refletidos em suas histórias, sucessos e até em suas lutas, o que cria um vínculo emocional profundo.

Quando uma figura como essa morre, o impacto pode ser semelhante ao da perda de alguém que conhecemos pessoalmente. Isso acontece porque, para o nosso cérebro, essas conexões emocionais são reais, mesmo que a relação não seja mútua. A dor que sentimos é uma reação natural à perda de alguém que desempenhava um papel significativo em nossas vidas, mesmo que de maneira indireta.

Esse processo é parte essencial da formação do “Ideal do Eu”, que é o conjunto de características e valores que aspiramos incorporar em nossa identidade. Quando uma figura famosa morre, muitas vezes sentimos que perdemos uma parte de nós mesmos, uma parte desse Ideal do Eu. As celebridades frequentemente encarnam qualidades que admiramos ou que gostaríamos de ter – talento, coragem, beleza, carisma. A morte dessas figuras representa não só a perda de um ídolo, mas também a perda simbólica de uma parte do que consideramos ser nossa própria identidade.

Sofrer pela morte de um famoso como se o conhecêssemos pessoalmente é normal e faz parte da complexidade das emoções humanas. Esse luto reflete o impacto que essas figuras têm em nossas vidas e como elas se tornam símbolos de aspectos importantes da nossa identidade, valores e sonhos. Não há nada de errado em sentir essa dor; é uma manifestação natural da conexão profunda que estabelecemos com as pessoas, independentemente de termos ou não um relacionamento pessoal com elas.

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