Antes de irmos ao texto, quero contextualizar o 20 de novembro para vocês.
O Dia da Consciência Negra foi idealizado em 1971 por um grupo de estudantes negros do Rio Grande do Sul, conhecido como Grupo Palmares. Em 2003, o então presidente Lula sancionou uma lei federal que estabeleceu o dia 20 de novembro como o Dia Nacional da Consciência Negra no calendário escolar. Essa mesma lei também tornou obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira nas escolas.
Mais tarde, em 2011, a celebração passou a ser oficialmente reconhecida como o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, por meio de outra lei federal. E, finalmente, em 2023, o presidente Lula sancionou a lei que transformou o 20 de novembro em um feriado nacional.
Percebam o longo caminho que essa data percorreu: foram 52 anos de luta até que fosse instituída como um feriado nacional. Um marco importante para registrar que precisamos, como sociedade, refletir e nos conscientizar sobre o racismo. E para você, que ainda insiste em dizer que o racismo não existe ou que é “mimimi”, vamos ao texto.
O racismo internalizado é uma forma de opressão silenciosa que afeta profundamente a autoestima e a percepção de identidade de pessoas de grupos racializados. Ele ocorre quando ideias e preconceitos racistas, difundidos pela sociedade, são absorvidos por quem sofre discriminação, levando a uma desvalorização de si mesmo e de sua cultura. Essa dinâmica está intimamente ligada ao que chamamos de “superego cultural”, uma espécie de regulador interno moldado por valores e normas da sociedade dominante.
O superego cultural reflete padrões de beleza, inteligência, comportamento e sucesso que muitas vezes privilegiam características de pessoas brancas. Por meio de mensagens diretas ou subliminares, a sociedade reforça a ideia de que determinados traços, como pele clara, cabelo liso ou práticas culturais específicas, são superiores. Com isso, pessoas de grupos historicamente excluídos podem sentir a necessidade de rejeitar suas características culturais ou físicas para se adaptar a esses padrões.
Esse fenômeno se manifesta de várias formas: desde uma autoimagem negativa e a busca por assimilação a comportamentos que perpetuam preconceitos contra outros membros da mesma comunidade. Exemplos muito comuns são: a rejeição de cabelos naturais, a valorização de tons de pele mais claros e até a discriminação linguística, quando formas de falar associadas a determinadas culturas são vistas como inferiores.
Para enfrentarmos isso, é essencial investir em educação crítica, buscando aprender mais sobre a história e as contribuições de diferentes grupos racializados, além de desconstruir narrativas dominantes que perpetuam a desigualdade. Práticas de afirmação, como celebrar características culturais e físicas próprias, bem como valorizar marcos importantes, como o 20 de novembro, também são fundamentais para resgatar o orgulho pela identidade.
Construir comunidades que valorizam as identidades culturais de forma positiva e desafiar os padrões dominantes impostos pelo superego cultural são passos indispensáveis para romper com essas dinâmicas opressivas. É importante lembrar que o racismo internalizado não é uma falha individual, mas o resultado de estruturas sociais que precisam ser transformados.
Os passos são de formiga, mas com muita vontade e esperança de que um dia teremos um mundo igualitário, onde não haverá mais discriminação em razão da cor de sua pele